Ciduca Barros
Anteriormente, eu já escrevi um texto sobre tabus, crendices e superstições. Sobejamente, sabemos que o nosso povo é extremamente supersticioso e rico em mitos e tabus. Volto a falar neste assunto porque agora chegou ao meu conhecimento mais um caso que ressalta a crença popular de nossa gente e que eu gostaria de dividir com vocês.
Um nosso conterrâneo, fazendeiro velho, calejado pelo tempo, vinha amargando uma série de azares. Nada do que ele fazia dava certo. Plantou e não colheu. Perdia gado de tudo quanto era jeito. Uma verdadeira maré aziaga.
Até que um compadre dele, também sessentão e cheio de histórias para contar, sabedor da sua fortuna adversa, resolveu aconselhá-lo:
– Meu compadre, por que você não arranja uma benzedeira para acabar com a sua má sorte?
E arrematou, cheio de esperança:
– Você a manda “fechar o seu corpo” e esta onda de azar não tem como entrar em sua vida.
E o conterrâneo pegou no ato a sugestão do amigo. Pertinho da sua propriedade estavam arranchados uns ciganos e ele mandou buscar uma rezadeira.
– Mulher! Eu quero que você “feche o meu corpo” – foi o seu inocente pedido.
– Isto é o que eu faço de melhor, meu senhor – afirmou com convicção a velha cigana.
Ato contínuo, pegou um galho de arruda e tome benzedura seguida de palavras ininteligíveis. Depois de o galho de arruda subir e descer no corpo do conterrâneo por diversas vezes. Depois de traçar várias cruzes imaginárias, devidamente acompanhadas de rezas supersticiosas, a cigana velha, ofegante, deu o trabalho por terminado.
– Seu corpo está fechado, meu amo. Agora, nada mais de ruim vai atingi-lo.
Quase satisfeito, o conterrâneo, devidamente refestelado numa cadeira, ao tempo que metia a mão no bolso, perguntou:
– Quanto lhe devo, mulher?
Naquele momento, surgiu um problema: ele deu uma empenada no corpo para um lado (para facilitar o movimento de “meter a mão no bolso”) e, com este movimento, relaxou o esfíncter anal. Como havia consumido uma boa quantidade de batata-doce na última refeição, cheio de gases, soltou um estrepitoso peido.
E ainda com a mão no bolso, ele gritou:
– Epa! O serviço não foi bem feito não!
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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