Foto: reprodução |
São interessantes as pessoas com autoestima, ainda mais as pessoas com super autoestima. Aquela garota estava no segundo grupo.
O homem saía do restaurante numa tarde que ficou nublada, e a chuva que se anunciava não veio. Deu de cara com a cena.
A moça estava parada na calçada do outro lado da rua. Esperava alguém, sem demonstrar qualquer pressa. Dava longas tragadas no cigarro, encostada na vitrina do salão de beleza refinado. Acabara de sair lá de dentro com aquele ar de quem levou uma geral diante do espelho.
Não dava para saber se ela tratou dos cabelos ou de algo mais, e nem quanto gastou naquele salão caro. Não havia resultado aparente – não adiantava ficar tentando ajudar. E ainda tinha uma cor esquisita na parte final do cabelo, algo escuro misturado entre azul e verde. Difícil entender aquela paleta de cores esparramada quase sobre os ombros.
O vestido preto, apertado, era muito menor na parte da frente, deixando entrever, de forma quase acintosa e a um fiapo de pano de distância da calcinha, suas coxas brancas. Magérrimas – sinto que estou tentando ajudar porque eram esqueléticas, na verdade. Do tipo que predomina no anoréxico mundo da moda.
Ela chamava a atenção dos passantes da alameda com seu conjunto exótico. Inteiramente na dela, sem capitalizar nada. Apenas esperando.
A grande vidraça da loja deixava ver o movimento frenético dentro do salão de beleza, como se aquilo fosse um grande aquário com sua fauna e flora exóticas. Colada no vidro pelo lado de fora, era como se ela ainda estivesse dentro daquele ecossistema de futilidades.
O homem ficou encantado com aquela figura. Da maioria das pessoas, possivelmente conquistaria com facilidade o olhar destinado às mais feias. Mas era apenas uma garota de uma grande cidade vivendo sua vida em paz. Exótica, cheia de personalidade, cagando um monte para o que os outros pudessem pensar. Exercendo o que talvez seja a maior virtude da super autoestima: a prerrogativa de não estar nem aí.
O homem atravessou a rua e se aproximou.
– Você deve ser a Rafa.
– Sim, sou eu. Tudo bem?
Ela jogou o cigarro na calçada e pisou para apagar. Dobraram a esquina e se perderam no vaivém da cidade.
O homem saía do restaurante numa tarde que ficou nublada, e a chuva que se anunciava não veio. Deu de cara com a cena.
A moça estava parada na calçada do outro lado da rua. Esperava alguém, sem demonstrar qualquer pressa. Dava longas tragadas no cigarro, encostada na vitrina do salão de beleza refinado. Acabara de sair lá de dentro com aquele ar de quem levou uma geral diante do espelho.
Não dava para saber se ela tratou dos cabelos ou de algo mais, e nem quanto gastou naquele salão caro. Não havia resultado aparente – não adiantava ficar tentando ajudar. E ainda tinha uma cor esquisita na parte final do cabelo, algo escuro misturado entre azul e verde. Difícil entender aquela paleta de cores esparramada quase sobre os ombros.
O vestido preto, apertado, era muito menor na parte da frente, deixando entrever, de forma quase acintosa e a um fiapo de pano de distância da calcinha, suas coxas brancas. Magérrimas – sinto que estou tentando ajudar porque eram esqueléticas, na verdade. Do tipo que predomina no anoréxico mundo da moda.
Ela chamava a atenção dos passantes da alameda com seu conjunto exótico. Inteiramente na dela, sem capitalizar nada. Apenas esperando.
A grande vidraça da loja deixava ver o movimento frenético dentro do salão de beleza, como se aquilo fosse um grande aquário com sua fauna e flora exóticas. Colada no vidro pelo lado de fora, era como se ela ainda estivesse dentro daquele ecossistema de futilidades.
O homem ficou encantado com aquela figura. Da maioria das pessoas, possivelmente conquistaria com facilidade o olhar destinado às mais feias. Mas era apenas uma garota de uma grande cidade vivendo sua vida em paz. Exótica, cheia de personalidade, cagando um monte para o que os outros pudessem pensar. Exercendo o que talvez seja a maior virtude da super autoestima: a prerrogativa de não estar nem aí.
O homem atravessou a rua e se aproximou.
– Você deve ser a Rafa.
– Sim, sou eu. Tudo bem?
Ela jogou o cigarro na calçada e pisou para apagar. Dobraram a esquina e se perderam no vaivém da cidade.
Documentarista, produtor cultural e colaborador do Bar de Ferreirinha
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