Professor de história eu tinha um repertório de situações pelas quais passaram alguns dos grandes do Brasil. A de Dom Pedro II é notável. Um cortesão foi pedir emprego ao Imperador para um cidadão que ele conhecia. Este negou o pedido e o vassalo, surpreso, perguntou o porquê. Dom Pedro respondeu: Porque não gosto de sua fisionomia. Mas o que tem o emprego com a fisionomia? Retorquiu o pedinte. Resposta definitiva: Depois dos quarenta anos, todo homem é responsável pela fisionomia que tem. Seu indicado não é homem sério. Fantástica resposta. Carregamos no rosto o que somos: bons ou maus, sérios ou canalhas, honestos ou corruptos. Lembrei com a foto de Gilmar Mendes que rodou na internet esta semana pela sua facilidade em soltar bandidos e tentar incriminar juízes e promotores.
Dalmo Dallari, jurista brasileiro, professor e depois diretor da Faculdade de Direito da USP, figura intocável quanto a honra e brilhante quanto ao saber, escreveu em 2002 na Folha de SP, quando FHC forçou a votação rápida da indicação de Gilmar ao STF. O título: DEGRADAÇÃO DO JUDICIÁRIO. “Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional... Gilmar como advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais...Gilmar pagou R$ 32.400 (R$160.000 atualizados pelo IGP-M) ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o mesmo dr. Gilmar Mendes é um dos proprietários- para que seus subordinados lá fizessem cursos”. Inteligente Pedro II, irresponsável FHC, profético Dallari. O rosto diz tudo.
Promotor de Justiça aposentado - ivar4hartmann@gmail.com
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