É preciso celebrar
os 91 anos vividos
por Elza Soares
Dodô Azevedo
Quantos anos você espera viver? Qual é o tamanho da importância para o mundo que você quer ter?
Como vai seu rim? Como vai seu fígado? Quanto dinheiro você gasta em ansiolíticos? Quanto em terapia?
Quanto em ginástica? Como vão suas taxas de estresse? Como vai a sua condição cardiovascular? Os exames que detectam tumores, estão em dia? Como vai sua taxa de glicose no sangue?
Qual é a diferença de vivência e sobrevivência?
No Brasil, mulheres negras sobrevivem, buscando também vivenciar. Procuram escapar de relacionamentos abusivos, de balas perdidas, de falta de oportunidades no mercado, de subvalorização do trabalho, para poderem vivenciar a vida: descansar, se divertir, jantar algo gostoso, ir ao cinema, ir a um show. Não é fácil, pois no Brasil, a mulher negra vive no fim do mundo.
Elza Soares, 'a mulher do fim do mundo', encerrou sua vivência e sobrevivência aos 91 anos, como uma das figuras mais importantes e definitivas para a história do Brasil.
Inspiradas por Elza, uma geração de mulheres floriu no país, das compositoras Bia Ferreira a Luedji Luna, às mulheres pretas acadêmicas, como Winnie Bueno e Carla Akotirene, e tantas outras, no jornalismo ao esporte.
E homens. O canto de Elza Soares, e o que Elza cantou, despertou muitos homens para um Brasil negro e mulher.
Esse país é isso. Uma mulher poderosa mulher negra.
Elza Soares.
Quando alguém consegue viver e sobreviver por tanto tempo, mais do que a grande maioria do que eu e você leitores viveremos, não é tanto luto o que se precisamos contemplar. O que urge é comemorar o triunfo desta pessoa.
Elza Soares.
A que a todos inspirou. E, por isso, talvez não seja a mulher do fim do mundo.
Provavelmente Elza Soares é a mulher do início de um mundo melhor.
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