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domingo, 5 de abril de 2020

A primeira vez na capital


Ciduca Barros

Para todos nós que nascemos e fomos criados em cidades do interior, a nossa primeira visita à capital do estado foi emocionante e ficou para sempre gravada em nossa memória. Eu, por exemplo, fiquei embelezado pelo mar. 
E você?
Raimunda, nascida e criada na zona rural lá do sertão potiguar, foi trabalhar na capital e, logicamente, tudo para ela foi novo e bonito. 
No entanto, o que mais chamou a sua atenção foi a rodovia asfaltada que, naquela época, do Seridó à capital, começava na cidade de Santa Cruz. 
Como eu dizia, aquela estrada preta retinta, com uma lista amarela da sinalização no meio foi o que mais impressionou a simplória Raimunda.


E já na casa onde iria trabalhar, em Natal, depois de arriar a mala, sua nova patroa, para quebrar o clima, lhe perguntou:
– E aí, Raimunda, gostou da cidade?
Ela, que ainda estava deslumbrada com o asfalto, não titubeou:
– É tudo muito bonito, D. Lourdes! Mas eu vi uma coisa tão bonita que chega a dar vontade da gente ficar espiando sem parar...
Que coisa é esta tão bela, Raimunda? – perguntou a patroa.
– É uma coisa que é mesmo que ver uma coisa que nóis mulher tem...
Curiosa, a patroa, mais uma vez, perguntou:
– E que diabo de coisa é essa, mulher?
E ela, muito encabulada, respondeu:
– É uma coisa preta, com duas bandas e com um risco bem no meio...

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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