Ciduca Barros
Ela era uma mulher de mais de 60 anos, viúva há algum tempo, nunca mais tivera alguém em sua vida. Timidez ou respeito ao finado, ninguém sabe, a verdade é que não conhecera outro homem, além do falecido.
Ainda com libido, supria a sua carência com muita oração, o desvelo pelos netos e, às vezes, um sexo digital e solitário para aliviar as tensões.
Um belo dia o inesperado aconteceu. Conheceu alguém que se mostrou interessado por ela, e a recíproca também foi verdadeira. Conversa vai, conversa vem, apesar da timidez que herdou da viuvez, terminaram num motel da cidade.
Cheia de pejo (e algum remorso) ficou preocupada, tensa e árida (sem a lubrificação natural). O cara, talvez um apressadinho, para piorar, eliminou as preliminares, e quis entrar logo no “jogo principal”.
O que encontrou? O estádio hermeticamente fechado e, para piorar, o gramado mais seco do que língua de papagaio.
Resultado? Não houve o jogo.
A pobre da pensionista, frustrada, resolveu ir a uma ginecologista. Contou o triste fato e pediu uma solução terapêutica. A médica, enfatizando a sua condição de mulher na fase da menopausa, o que já acarreta a inexistência de uma umidade natural nas “engrenagens” eróticas, sugeriu, de futuro, usar um lubrificante vaginal (a famosa vaselina).
Saindo do consultório, passou logo na farmácia mais próxima, comprou o que seria a possível solução do seu problema, e o guardou cuidadosamente no seu armário de medicamentos.
Dias depois, após novos entendimentos com o herói apressadinho, marcaram novo jogo. Na hora aprazada, vaselina na bolsa, partiram para a revanche. E lá estavam os pombinhos, na penumbra de um quarto de motel, mão na mão, mão naquilo, aquilo na mão.
Convenientemente desnudos, ela não se esqueceu de tirar da bolsa a “graxa” salvadora e, antes de o time entrar em campo, a perseguida foi convenientemente lubrificada para a contenda.
E o jogo quase aconteceu. Por que quase?
Porque ela, na pressa de sair de casa, no afã de não mais fracassar, fatos aliados à sofreguidão do embate amoroso, em vez de apanhar o gel lubrificante e salvador, pegou um tubo de Bálsamo Bengué (para dores reumáticas, torcicolos, contusões e dores musculares), na base de mentol e salicilato de metila, que, segundo a bula, não é aconselhável usar: “em área de ferimentos, sobre as mucosas ou na região dos olhos, boca, nariz, reto e vagina”.
Vagina? A dela ficou ardida e em brasa.
Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha
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