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domingo, 8 de março de 2020

Esquecimento senil


Ciduca Barros

Na vida, há momentos para tudo. Particularmente, para mim, existe uma data limite para o sujeito ficar viúvo. 
Passou dessa data, o cara vai ser um velho solitário, triste e, muitas vezes, até ridículo.
Querem um exemplo?
Mané Pimpão já era um sexagenário quando a sua esposa faleceu. 
Os filhos criados, Mané ainda controlando o seu corpo, o seu sítio e os seus atos, ficou sozinho.
Conversando com um velho compadre, desabafou:
– Amigo! A pior coisa do mundo é o homem enviuvar! 
O amigo, solidário com a tristeza de Mané, perguntou:
– E então? Por que você não casa de novo?
E Mané Pimpão fez a sua segunda revelação do dia:
– Eu tenho medo de fracassar na cama, meu compadre!
O compadre, que era um amigo verdadeiro e sincero, resolveu clarear as ideias de Mané Pimpão:
– Que fracassar que nada, homem de Deus! Quem não tem cão caça com gato! Hoje em dia se trepa de todas as maneiras, amigo.
– Não entendi nada, meu compadre!
E o compadre, que era mais esclarecido, mandou mais didática:
– O que eu quero dizer é que quando falta o “principal”, o cara usa o dedo, a língua...
– É assim?
– Claro que é, amigo!
Mané Pimpão, que já estava de olho numa cabocla que tinha a metade da sua idade, logo a cortejou e se casou em pouco tempo.
Passaram-se os dias e num sábado de feira, Mané Pimpão se encontrou com o seu compadre-conselheiro. Conversa vai, conversa vem, o compadre abordou o antigo receio:
– E então? Como vai o casamento? Está dando tudo certo?
Entusiasticamente, com o polegar para cima na tradicional forma de dizer OK, o velho Mané foi só elogio:
– Uma beleza! Que fracassar que nada! Tem sido uma maravilha...
– Até com o “principal”? – resolveu perguntar o compadre.
E a resposta do esquecido Mané foi sentenciosa:
– O “principal”? Ah! Se você não me pergunta.... Eu nem me lembro mais dele!

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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