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domingo, 29 de março de 2020

A tabela


Ciduca Barros

No Brasil, muitas vezes, não existe um bom relacionamento entre os homens de negócio e os órgãos governamentais existentes para reger o comércio e a indústria. 
Há, sim, uma guerra não declarada. Em certos momentos, há uma trégua ou outra. 
Porém, na maioria das vezes, o que há é muito arrocho, sonegação e tensão, principalmente quando estamos no meio de uma crise financeira.
Na época desta história havia uma crise econômica e muita tensão entre a extinta SUNAB (Superintendência Nacional de Abastecimento) e os panificadores. 
Os donos das padarias alegavam que a SUNAB, que também tinha a função de controlar preços, tabelou o valor do pãozinho, mas não controlava o preço da farinha de trigo. Portanto, segundo eles, os seus lucros estavam, a cada dia, mais achatados. 
Isto posto, quando ocorreu esta história, a briga entre a SUNAB e os panificadores estava no auge.
Naquela cidade seridoense, um determinado cidadão era dono de uma das padarias locais. 
Mesmo sendo um cidadão honesto e pontual em seus compromissos, ele era uma pessoa rude e não instruída. 
E a sua rudeza, em virtude do problema com aquele órgão estatal controlador, estava à flor da pele.
Certa noite, ele cantou a sua esposa com o objetivo de eliminar o seu tesão e, quem sabe, para também aliviar a sua tensão.  
Ela, que vinha utilizando uma tabela de controle de natalidade (eles já tinham cinco filhos), com muito tato, procurou dissuadi-lo da sua intenção sexual.
– Hoje não é possível, João Padeiro! A tabela não permite. 
O homem, que já estava supernervoso, explodiu de vez:
– Puta merda! A porra da SUNAB está interferindo até no entrepernas da minha mulher?

Escritor e colaborador do Bar de Ferreirinha

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