Páginas

domingo, 31 de agosto de 2025

Bibica volta à lista de bilionários da Forbes

 A 13ª lista de bilionários brasileiros da revista Forbes, divulgada ontem, tem 31 estreantes, e o retorno de um dos mais assíduos. 

Bibica Di Barreira (foto), caicoense fundador e presidente do Conselho de Administração da Ryfs Corporation - uma das gigantes do entretenimento online - voltou ao ranking depois do tarifaço imposto pelo governo do Estados Unidos.

Os negócios da Ryfs aumentaram de forma exponencial, graças à procura pelos jogos da empresa por outros países, também afetados pelo tarifaço.

Bibica Di Barreira voltou ao ranking na 5ª posição entre os brasileiros mais endinheirados, com uma fortuna estimada em R$ 4,2 bilhões.

Empresário Bibica Di Barreira voltou em
5º lugar entre os brasileiros da Forbes

Entre os brasileiros estreantes eles estão nomes como Iris Abravanel, viúva de Silvio Santos, e Lauro Fiuza, um dos fundadores do Grupo Servtec, empresa do setor de energia. 

Em geral, os "novatos" são executivos ou herdeiros.

O ranking de 2025 da Forbes reúne, ao todo, 300 brasileiros com fortuna de R$ 1 bilhão ou mais. 

O mais rico é Eduardo Saverin: ele lidera o seleto grupo pelo segundo ano consecutivo. 

Só neste ano a fortuna dele cresceu 45,5%, para R$ 227 bilhões.

Já o novato mais rico da lista é Max Van Hoegaerden Herrmann Telles, filho mais novo do bilionário Marcel Herrmann Telles.

Segundo a Forbes, ele está assumindo a participação do pai na AB InBev, a maior cervejaria do mundo, proprietária da Ambev.


sábado, 30 de agosto de 2025

Dinheiro lavado

 

Imagem: Bru-nO/Pixabay


Giovanni Mick Torium*

A maior e mais importante operação policial já realizada do Brasil contra o crime organizado foi um primor de execução. Foi de cair o cu da bunda a dinheirama movimentada no negócio de combustíveis do Primeiro Comando da Capital (PCC): R$ 52 bilhões desde 2020. Estamos falando de um grupo de traficantes truculentos que se transformou num complexo sistema de negócios em diversas frentes empresariais. O mesmo modelito de empreendedorismo adotado pela Máfia italiana para legalizar seu dinheiro sujo, que se espalhou por outras organizações criminosas ao redor do mundo com a ajuda de profissionais cada vez mais especializados e muito bem pagos.

Entretanto, somos um país tão imbecil que setores da administração pública deram vexame em gabinetes refrigerados para requerer a paternidade do feito. Na verdade, foram três operações associadas: Carbono Oculto (Ministério Público de São Paulo), Quasar e Tanque (Polícia Federal). Enquanto 1,4 mil agentes públicos – aquela turma que vive enxugando gelo – estava em campo fazendo buscas, apreensões e prisões em dez estados, um bando de burocratas que ocupa cargos quase sempre pelo mérito do compadrio, da bajulação ou da ignorância eleitoral se pôs a contar vantagens como qualquer bom faroleiro. A trombeta dos miseráveis soou em duas entrevistas coletivas, Sampa e Brasília, juntando água e óleo. De um lado, os ministros Ricardo Lewandowski e Fernando Haddad, com a ajuda do chefe da PF Andrei Passos. Do outro, o governador paulista Tarcísio de Freitas. Todos com suas miras telescópicas apontadas para as urnas de 2026.

A operação só foi um sucesso porque, durante dois anos inteiros, diversos agentes públicos estaduais e federais trabalharam em estreita colaboração e sigilo, deixando fora da sala a maldita divisão política que polarizou o país e nos levou a este ponto de mediocridade generalizada, onde figuras manjadas vêm falar sobre trabalhar em uníssono e são as primeiras vozes a buscar os solos midiáticos.

Mesmo diante desse cerco histórico às finanças do PCC, se mantém no governo federal outra disputa inacreditável entre patotas de barnabés para definir se esses grupos criminosos devem ser chamados de facção, organização criminosa ou máfia. Sim, aquela filosofia de botequim cheia de dedos que cria direitos vadios para quem comete crimes sem qualquer deferência. A mesma lógica estúpida de que favela deve ser chamada de comunidade, às favas o fato de que as condições miseráveis de quem vive nelas jamais melhoram.

Enquanto isso, a bandidagem cada vez mais organizada vai refinando seus métodos de atuação, pouco se lixando para títulos e mesuras de quem não tem coisa melhor para fazer enquanto se agarra ad aeternum nas tetas públicas. A começar pelas excelências parlamentares que mantêm engavetada a PEC da Segurança Pública, muitas delas eleitas e reeleitas com campanhas financiadas por esse dinheiro sujo.

A operação policial jogou pelos ares apenas um dos setores da atividade da quadrilha, que inclui fazendas de plantação de cana, usinas, distribuidoras, postos de serviços, lojas de conveniência e até terminais portuários. Sem contar um enorme sistema de importação de insumos para produção e adulteração de combustíveis. Ou seja, uma operação comercial que não foi montada da noite para o dia e obviamente entrava como areia nos olhos, quiçá nos bolsos de autoridades há muito tempo. Autoridades que preferiam gastar dinheiro com colírio ao invés de fechar a janela por onde entrava o vento empoeirado.

Há quantos anos se sabe que dinheiro escondido em salas de apartamentos, dentro de paredes ou enterrado é destruído pela ação do tempo? Há até uma série televisiva de sucesso mundial que mostra as agruras que o traficante Pablo Escobar enfrentou com esse tipo de armazenamento rudimentar – chegava a perder 10% do faturamento anual para mofo e roedores, algo que nos anos de ouro alcançou US$ 2,1 bilhões de prejuízo/ano.

Ora, essa história é antiga pois o colombiano morreu em 1993. Passou tempo mais do que suficiente para que se criasse um sistema eficiente de monitoramento das principais facções brasileiras, que também precisariam de métodos mais modernos para armazenar dinheiro. A começar pelas contas bancárias que foram abertas aos montes. Essa displicência facilitou as providências que deram ares de legalidade ao fluxo de capital ilícito, com tudo ficando lavadinho da silva.

Segundo foi noticiado, a porta de entrada para legalizar o dinheiro eram fintechs (startups do mercado financeiro) que transacionam recursos de clientes – em contas que não identificam os titulares e permitem ocultar origem e destino do dinheiro – com administradoras de recursos encarregadas de buscar aplicações em novos negócios de fachada em diversos setores, aquisição de propriedades, fundos de investimento... O processo vai criando um emaranhado onde fica cada vez mais difícil revelar os donos da bufunfa. Para alegria dos criminosos de todos os ramos, tudo absolutamente dentro da lei.

Por merecerem regalias normativas em relação aos bancos tradicionais, as fintechs terminaram virando portas de entrada do sistema financeiro para dinheiro sem origem. O mais impressionante é que mesmo movimentando milhões de reais diariamente estavam liberadas de informar detalhes das operações, o que permitia incluir lucrativa vista grossa de operadores com olhos bem arregalados e sem qualquer vestígio de areia.

É grande a tentação de acreditar que essa fragilidade no controle e fiscalização foi garantida por uma legislação de caso pensado. Ou Brasília não é o centro legislador que na véspera da operação policial tentava aprovar, na calada da noite, a PEC da Blindagem? Já vai se formando um consenso de que seria a senha para acomodar membros infiltrados do crime organizado nas cadeiras do parlamento federal, o que livraria os criminosos de seguir financiando campanhas de políticos duvidosos. Assim, eles mesmos poderiam usufruir diretamente de uma nova legislação que os deixaria acima da Justiça e livres para legislar em causa própria, numa espécie de utopia da cafajestagem. Salvou-nos – por ora – o desconforto de ministros do STF, que chegou aos porões da Câmara e estancou o frenesi aprobativo.

Difícil acreditar que as fintechs foram criadas para atender apenas ao PCC ou qualquer outra sigla do crime organizado. Alguém ficará surpreso se a lista de clientes também esconder os velhos pilantras de sempre, que vivem solfejando moralidade e espírito público em seus imaculados colarinhos brancos especializados em desviar recursos públicos?

A economia do crime foi sendo legalizada debaixo dos narizes de um país que se acostumou a não sentir mau cheiro na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Diante do escândalo, o governo reagiu prometendo para o dia seguinte normativos que equiparem fintechs a bancos no rigor do acompanhamento e fiscalização de transações. Por que só agora, cara-pálida?

Algum gênio da raça pensou na ideia de infiltrar policiais nessas organizações financeiras que caem na tentação e se entregam ao riquíssimo pecado de lavar dinheiro. Não diga! Falta originalidade, para dizer o mínimo, porque é a mesma infiltração que o crime organizado demonstra ter feito há muito tempo nas mesas de operações do mercado, no ambiente empresarial, nos gabinetes políticos, no Judiciário, em congregações religiosas, nas universidades e no escambau.

É óbvio que o teatro de operações mudou completamente, já não está mais limitado a apenas caçar apelidos do mundo do crime debaixo de balas. Faz tempo que o PCC deixou de ser associado até com certo romantismo ao tal de Marcola – preso desde 1999 e esquecido numa cela da Papuda –, a liderança marginal e truculenta que se gaba de ter formulado o “Código do Diabo”, o conjunto de normas de conduta que todos os membros eram obrigados a cumprir.

O fato de seu nome não aparecer na operação policial demonstra que a turma parece cada vez mais independente e se distanciando do velho líder e seus métodos arcaicos. A organização saltou para um patamar de negócios cuja complexidade não deve ser fácil de alcançar – muito menos comandar de fato – por alguém que apenas completou o ensino básico na cadeia, se gaba de ter lido um punhado de livros, mas está encarcerado em regime de segurança máxima a milhares de quilômetros da sede da organização e longe do cotidiano dos negócios.

O surgimento de novos nomes como cabeças do negócio deixa no ar a impressão de que “PCC” já pode ter virado uma sigla generalista para designar esquemas criminosos que nada têm a ver com a organização original. Um sistema que pode estar credenciando “franqueados” e cobrando algum tipo de pedágio pela estrutura e pelo poder de intimidação, diluindo atividades ilegais de outros grupos para dificultar a ação dos agentes da lei, repetindo o que ocorreu com a Máfia siciliana – hoje tem máfia até de flanelinhas! Por isso mesmo, muita gente da Faria Lima deve ter faturado alto nesse embalo, mesmo sem nunca ter obtido carteirinha da turma de Marcola.

A gigantesca ação policial desnuda algo que qualquer um menos bobo enxerga até na vizinhança: o Brasil não consegue mais esconder sua índole criminosa, sempre protegida pela impunidade. Ou este não é o país que se acostumou a ver as grandes investigações terminarem mofadas ou roídas nas gavetas dos tribunais superiores maturando anulações vergonhosas, anistias e prescrições? Afinal, os maiores escândalos sempre correm para as altas cortes porque cifras milionárias e gente poderosa têm alergia à primeira instância.

Passeando aleatoriamente pela impunidade tupiniquim, o armário de 1983 mostra o esqueleto empoeirado do caso Coroa-Brastel, que eletrizou o país ao misturar o empresário Assis Paim Cunha e os então poderosos ministros Delfim Netto e Ernane Galvêas – está tudo a um clique na internet, inclusive o tamanho da pizza. Por isso, se quiser, vá gastar sua mufa sozinho. Eu vou continuar cagando e andando.

*Giovanni Mick Torium não é jornalista. É especialista em esgoto.

terça-feira, 10 de junho de 2025

O imbrochável... broxou!


Goya Bada*

Foi de dar pena o estado emocional de Jair Bolsonaro no depoimento a Alexandre de Moraes, hoje, falando mansinho, atropelando as palavras, gaguejando, visivelmente apavorado. Tanto que, durante horas de depoimento, só emitiu "entubar" como único exemplar do seu português ruim. Mas o sofrimento estava apenas começando.

O resumo é que o réu passou o tempo todo se lamuriando pela derrota eleitoral, mas em momento algum duvidou da legitimidade ou afirmou que a eleição foi fraudada. Mantendo a costumeira linguagem de botequim, declarou textualmente “tivemos que entubar o resultado das eleições”. Fez politicagem, se vangloriou, atacou Lula e adotou o papel de coitadinho que deixou a praia do Rio pelo “espinho” de subir o planalto para assumir a Presidência.

Talvez começando a entender o tamanho do problema que criou para si mesmo, em diversos momentos tentou culpar o próprio temperamento, a ponto de dizer que “tem se esforçado para melhorar”. Pediu para não ser condenado e que Deus iluminasse os votos de todos os juízes que o julgarão. Vexatório! A cara dos advogados deu o tom da preocupação sobre o futuro.

Houve um momento de grande constrangimento quando reconheceu que fez acusações levianas sobre propinas a três ministros do Supremo (Barroso, Moraes e Fachin). Afirmou que não tinha provas, que foram bravatas, chamou à cena o “temperamento” mais uma vez e pediu desculpas públicas aos três.

Outro enorme constrangimento se deu quando reconheceu que pode ter exagerado nas críticas às urnas eletrônicas, que estava apenas alertando sobre problemas de fraude que poderiam ocorrer “no futuro”, pois “nenhum sistema computacional está livre de invasões”, que pode estar imune hoje, mas ser invadido e fraudado no futuro. De quebra, defendeu as eleições paraguaias e venezuelanas.

Mais um constrangimento foi reconhecer que o relatório da comissão de militares não apontou qualquer irregularidade sobre o sistema das urnas eletrônicas e negou pressão (de que é acusado) para mudar o resultado do relatório e postergar a divulgação para depois do 2º turno das eleições.

Mais um constrangimento ocorreu quando interrogado sobre a minuta do golpe e reconheceu que eram apenas “ilações”, “considerandos”, “conversas informais”, que o material foi mostrado numa tela aos comandantes militares e que não fez os enxugamentos (de que é acusado) no texto original.

Em muitos momentos delicados, repetiu o “modelo Lula”: não sabia de nada, não viu, não foi informado. Ou seja, é legítimo supor que presidentes não governam o país, não têm autoridade, todo mundo faz o que quer em Brasília.

Confirmou a reunião com Zambelli e o hacker Delgatti e disse ter encaminhado o rapaz para o Ministério da Defesa e “não soube de mais nada”. Ou seja, ao invés de mandar prender um sujeito que prometia invadir o sistema eleitoral do país que supostamente governava, mandou-o apresentar o “projeto” ao ministério. E finalmente lançou a deputada fujona aos tubarões ao confirmar a reunião.

Não lembra de ter telefonado para o general Heleno retornar às pressas a Brasília. Ou seja, deixou no ar a impressão de que o milico de pijama – sentado logo atrás com cara de paisagem – está fora de órbita, pois deixou a festa do neto e pediu carona ao minstro da Aeronáutica (leia-se jatinho da FAB) para atender o chamado.

O pior momento de todos: convidou o ministro para a viagem política que pretende fazer nos próximos dias “se o senhor autorizar”. Depois de levar um elegante “declino” pela testa, rastejou ainda mais: convidou Alexandre de Moraes para ser vice dele na eleição de 2026. I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL!!!

Um degradante pedido de penico ao “inimigo” em rede nacional, com vergonhosa bajulação. Algo que pode ser lido como “estou apavorado!”. Imediatamente, a militância entrou em parafuso e se dividiu. A banda mais bronca achou tudo muito engraçado, que o sujeito deu um show no depoimento e ainda tirou onda nos dois convites surreais ao ministro. A banda que acreditava fazer parte da salvação do mundo foi tomada por um sentimento difuso de vergonha e revolta ao perceber que apenas fazia parte do bloco dos bobos alegres, já que o próprio Bolsonaro rasgou a fantasia de “vilão” e de “inimigo número 1” que havia sido desenhada para Alexandre de Moraes.

O procurador-geral Gonet chamou o réu apenas de “senhor Bolsonaro”, sem jamais citar o último cargo, evitando o ridículo vício oficializado pela liturgia bajulatória nacional.

Ao fim do depoimento do réu, o resumo da ópera parece um apito agudo de um trem desgovernado e rumando para o abismo. Em resumo, o imbrochável... brochou!

*Goya Bada não é jornalista. É um doce.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

IA virou a ‘bitcoin reborn’ da malandragem

 Djair Galvão

Brasil virou um 'celeiro' de especialistas em Inteligência Artificial. Aqui se vende todo tipo de solução com as IAs. Uma picaretagem intelectual que repete estratégia de negócios das moedas virtuais


Você rola a tela do telefone, em qualquer plataforma, e aparece um vídeo com alguém falando - em tom professoral - como é fácil falar inglês sem esforço, aprender mandarim em meia hora, tirar suas vendas do fundo do poço ou resolver seus problemas históricos com o uso da língua portuguesa. Outra mocinha, de dentes brancos como a neve, dirá que a dieta dos sonhos será prescrita em poucos cliques e seu emagrecimento já estará garantido. Um terceiro indivíduo, de blazer italiano da Shopee, calça de sarja e sapatênis, mostrará como seus vídeos ficarão perfeitos, dublados em qualquer idioma. Por fim, seu corpo será bem-cuidado: o algoritmo ajustará tudo, indicará exercícios e os melhores médicos e hospitais, se for o caso.

Estamos numa fase na contemporaneidade em que fantasia e realidade se misturam numa espécie de encantamento coletivo - ou de quase todo mundo.

Outra situação que certamente muitos conhecem: você é apresentado a um sujeito num encontro com amigos e ele diz ser “especialista em IA”. Tem plano de vendas, de aulas de inglês, de musculação, indicação de vinhos, cervejas artesanais e das comidas perfeitas para você se dar bem e ser feliz para sempre. As maravilhas embutidas nas suas promessas são embaladas em termos em inglês e em palavras supostamente inteligentes. Depois disso, basta assinar um contrato com a empresa dele - na verdade um site vazio qualquer que promete muito e entrega tudo nas mãos da Inteligência Artificial. Se ele encontrou um otário, negócio fechado!

Essa febre das IAs lembra a atual crise dos bonecos de silicone, que grupos de adultos aparentemente desajustados chamam de 'bebês reborn': o crescente número de pessoas que se entregam de cabeça a uma dita novidade que vai revolucionar tudo e mudar suas vidas num passe de mágica. Também me faz recordar as constantes ligações telefônicas que ouvi em salas de espera de aeroportos nas quais sujeitos marombados falavam com seus “clientes” sobre ganhos que estes teriam com mais e mais investimentos em bitcoins. Nas diversas ocasiões que acabei ouvindo, o vendedor estava sendo cobrado para devolver o dinheiro e dizia que estava aguardando a liberação daquele "investimento" pela empresa. Traduzindo: o golpista vendera moedas virtuais num esquema de pirâmide e a pessoa enganada havia notado. Era hora de inventar uma história e partir para a próxima vítima. 

Jogos de apostas de picaretagem como Tigrinho, a turma das pirâmides das bitcoins, o mercado dos bonecos de silicone e a procissão real ou virtual de vendedores de IAs parecem ter um encontro marcado nesta quadra da humanidade. Todos guardam essa relação: promessas, fantasias, enganação, venda de sonhos e - tcharammm!!! - acontece o milagre da transferência de recursos para o bolso de uns poucos.

As corporações norte-americanas disputam avidamente esse mercado, alimentam os influenciadores com suas telas mágicas, impulsionam seus conteúdos, pagam milhões a alguns - uma ínfima parcela do seu faturamento multibilionário -, cujas fronteiras se desconhece. Nada é feito por acaso. Nada está desconectado do processo avassalador de dominação por meio das plataformas virtuais, inclusive chinesas. Estas, com seus protótipos de Inteligência Artificial, atiçam uma briga planetária que só começou.

Do lado mais frágil, os ditos consumidores ou “usuários” (dependentes químicos, inclusive) desse modelo de negócios que é a nova face do capitalismo no século 21.

Na prática, essa corrida do ouro na qual uns poucos pegam o que puderem vai se desenrolando sem nenhuma regulação, a milhões de quilômetros de qualquer comportamento que lembre ética ou cuidado com a saúde mental das pessoas. Estas foram reduzidas a admiradoras de um mundo maravilhoso, cercado de malandros por todos os lados. Uma ilha da fantasia de onde, minuto após outro, milhares perdem suas identidades, suas vidas, seu futuro e mergulham na depressão e no vazio.

Até onde pode-se avistar, esse universo turvo das promessas de "tudo nas mãos de todos - em segundos" é produto de um surto coletivo. Que parece não ter fim. E que se transmuta numa velocidade capaz de nos enganar como fazem os mágicos durante seus truques no picadeiro. Sabemos que a magia que rola entre os gestos calculados desses profissionais nos prendem pela curiosidade, mas estamos sempre dispostos a buscar o próximo encantamento a ser mostrado.

Esse é propriamente o mundo que se descortina nessa selva de enganadores, trapaceiros e pretensos especialistas. Eles exploram, à moda dos aventureiros do Velho Oeste, os avanços tecnológicos em curso e aqueles que ainda estão por vir. 

A tecnologia usada como fetiche e que vira negócio ou “oportunidade”, como se diz no jargão do empreendendorismo e afins. Estamos diante de um mundo sombrio e fazemos de conta de que tudo está cada vez mais lindo.

Repetindo uma expressão clássica, “Quem viver, verá”.

Leia outros textos de Djair Galvão clicando neste endereço:

https://substack.com/@djairgalvao?r=282wgt&utm_medium=ios