Mentir é como furtar. Depois de descoberto, por algo implícito ao gênero humano, o mentiroso fica marcada para sempre. Como o jogador de cartas que pegam roubando. Pode ser a primeira vez. Todas suas vitórias anteriores serão creditadas a um deslize de caráter e suas ações futuras levadas sempre com desconfiança. Quando infantes, para nos ensinarem, contam do Pinóquio cujo nariz crescia quando mentia. E do sofrimento do seu pai adotivo Gepeto. E do resultado feliz quando ele parou de mentir.
Ou do pastorzinho guardador de ovelhas, não longe do povoado, que gritava que os lobos estavam atacando o rebanho. Todos corriam para ajudar e era mentira. Até que certa vez eram os lobos mesmos, mas, acostumados aos seus pedidos, ninguém acorreu e muitas ovelhas foram sacrificadas. Como também é uma fábula de aprendizado, também aqui há soluções e o menino se emenda. Agora o Ministro da Justiça diz que vai pedir a colaboração da INTERPOL para casos brasileiros.
Os mentirosos das redes sociais, mudam o teor da afirmação e fica assim: o Ministro da Justiça ameaça trazer policiais de outros países para fazerem cumprir a lei nacional. A estupidez é óbvia. Mentira tão absurda que não se entende como alguém a aceita e propala. O Ministro foi professor e juiz de direito. Jamais diria uma sandice destas. É como dizer que os russos vão pedir auxílio da Inglaterra para combater a Ucrânia. E tem quem acredita e difunde. Há uns dois anos, nem lembro mais qual notícia li em um grupo. Ela me pareceu verdadeira. Este é o fulcro: eu queria que fosse verdadeira. Dizia como eu pensava. Então difundi-a erroneamente. Tortamente. Sempre há uma primeira vez. Que seja a última. Daí o ditado: errar é humano, persistir no erro é burrice.
Promotor de Justiça aposentado
ivar4hartmann@gmail.com
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