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terça-feira, 5 de julho de 2022

Criança: nada na cabeça!

                     

Ivar Hartmann

Há muitos anos levei meu filho para praticar esqui nórdico, aquele praticado em locais nevados com pequenas elevações. No meio da floresta do Cerro Otto, em Bariloche, tinham feito uma pista: dois sulcos paralelos, de uns 10 cm de profundidade, correndo por km entre as árvores, serpenteando pelo alto da montanha. Muito lindo. Como não sabíamos esquiar, contratei um professor que tinha aberto uma escola em uma casinha, no fim da estrada de montanha, onde o fogão a lenha deixava tudo e todos com cheiro de fumaça. Era um ambiente acolhedor e por lá passávamos o dia. Bela lembrança. Fabian Eiras era o nome do professor e proprietário. Sujeito simpático. Saíamos pela pista em fila indiana, eu, meu filho e o professor para que ele mostrasse os detalhes de nossos erros. No segundo dia meu filho foi na frente e desapareceu entre as árvores. Reclamei do professor: como é que ele já está andando melhor do que eu?

Nunca esqueci a resposta: “O que ele tem na cabeça?” E em seguida: “Nada! Enquanto tu, mesmo prestando atenção no que fazemos, tem todo tipo de problemas na cabeça, incluindo tua segurança, ele não tem nada na cabeça com que pensar. Então ele assimila tudo mais fácil. E não te preocupe que não vai acontecer nada.” Demos a volta ao morro e, ao final, lá estava o piá, com cara de sem vergonha, nos esperando. O que quero dizer é simples: criança não tem nada na cabeça. O mundo vai lhe ensinar. Falar, olhar, sentir, escrever, é um processo. Neste aprendizado não é difícil ver que são seus professores diuturnamente. Se eles falham, por ignorância ou descaso, não adianta mais tarde lamentar. É fácil dizer sim para não se incomodar. Dizer não, só para pais inteligentes que pensam no futuro. 


Promotor de Justiça aposentado

ivar4hartmann@gmail.com

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